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Projeto ReciclaON leva capacitação em resíduos eletrônicos a Aracaju com apoio da Unit

Iniciativa reúne universidades, órgãos públicos e cooperativas para transformar o descarte tecnológico em oportunidade de sustentabilidade

Por Redação Sergipe Notícias Publicado em 23/10/2025 às 07:34
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Projeto ReciclaON leva capacitação em resíduos eletrônicos a Aracaju com apoio da Unit

A cada novo modelo de celular, computador ou dispositivo digital lançado, uma grande quantidade de equipamentos antigos é descartada sem o destino correto. Esse ciclo contínuo de consumo e descarte tem transformado o lixo eletrônico, ou REE, Resíduos Eletroeletrônicos, em uma das formas de poluição que mais crescem no mundo. O problema vai além da aparência das cidades: fios, placas e baterias contêm metais como chumbo, mercúrio e cádmio, substâncias altamente tóxicas que, quando manipuladas de maneira inadequada, contaminam o solo, o ar e a água, afetando tanto os ecossistemas quanto a saúde humana.

Embora o Brasil possua legislação específica para o descarte de REE há mais de dez anos, poucas cidades contam com estrutura suficiente para realizar a reciclagem e a logística reversa desses materiais. Diante desse cenário, iniciativas que aliam conscientização, capacitação e responsabilidade social tornam-se essenciais para mudar a realidade. Foi com esse propósito que o Projeto ReciclaON, apoiado pelo Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal, chegou à capital sergipana.

União entre ciência, sociedade e meio ambiente

Aracaju foi a décima cidade brasileira a receber o Curso de Desmontagem de Resíduos Eletroeletrônicos, uma das ações do programa ReciclaON - Educação para o Descarte de Resíduos Eletroeletrônicos. O projeto é coordenado nacionalmente pelo Instituto Gea - Ética e Meio Ambiente, em colaboração com o Laboratório de Sustentabilidade (LASSU) da Universidade de São Paulo (USP).

Em Sergipe, a execução contou com o apoio de diversas instituições, como a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema), o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), o projeto Meninas na Ciência e o programa Conduta Consciente da Universidade Tiradentes (Unit), que cedeu seus laboratórios e infraestrutura para a realização das atividades. Durante duas semanas, catadores de 30 cooperativas sergipanas (metade delas do interior e metade da Grande Aracaju) participaram de formações práticas e teóricas nas dependências da universidade.

Para Cláudia Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Biociências e Saúde da Unit e coordenadora do Conduta Consciente, o grande diferencial foi a integração entre diferentes setores, público, social e acadêmico, em prol de um mesmo objetivo. “O Instituto GEA obtém o financiamento e promove a capacitação; nós, como universidade, oferecemos a estrutura, o suporte técnico e o engajamento de professores e alunos. Essa união de esforços tornou possível uma formação colaborativa, unindo responsabilidade ambiental e transformação social”, destacou.

Ela explica que o curso aborda tanto o aspecto técnico quanto o humano. “Na primeira etapa, os catadores aprendem sobre segurança e cuidados essenciais no trabalho. Recebem EPIs, máscaras e uniformes, além de compreender o valor da própria atividade e como aumentar a rentabilidade. Sem esse preparo, muitos acabam quebrando equipamentos de forma inadequada, o que reduz o valor das peças e aumenta o risco de contaminação. Com a capacitação, passam a desmontar e separar os componentes corretamente, podendo multiplicar os ganhos e reduzir os danos ambientais”, complementou Cláudia.

Mineração urbana e o valor dos resíduos eletrônicos

A professora Sílvia Egues, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP) da Unit, ressalta que o projeto vai além da conscientização: é um exemplo prático de como a engenharia química pode ser aplicada à sustentabilidade. “Quando falamos de economia circular, estamos incluindo novos protagonistas, pessoas que passam a gerar renda com materiais que antes seriam apenas lixo. É uma nova forma de enxergar os resíduos”, afirmou.

Segundo Sílvia, o ReciclaON representa o que se chama de mineração urbana, conceito que busca substituir a extração de recursos naturais pela recuperação de materiais já utilizados. “Em vez de extrair da natureza, estamos retirando valor de produtos descartados. Equipamentos eletrônicos, quando desmontados, podem fornecer metais e polímeros recicláveis. O cobre, o ferro e outros metais reaproveitados deixam de ser extraídos de minas, diminuindo o impacto ambiental”, completou.

Ela também destacou a importância do reaproveitamento de baterias e do lítio, elemento essencial em veículos elétricos e dispositivos portáteis. “Mesmo quando o aparelho para de funcionar, o lítio ainda pode ser reaproveitado, sem necessidade de nova exploração mineral. Essa é uma fronteira tecnológica promissora”, observou.

Sílvia lembrou ainda que pesquisas internacionais vêm avançando na recuperação de metais preciosos a partir de resíduos eletrônicos. “Em um congresso em Portugal, conheci uma pesquisadora que desenvolve métodos de extração de ouro de placas eletrônicas. Embora as quantidades ainda sejam pequenas, o aprimoramento dessas técnicas pode revolucionar o tratamento do lixo eletrônico nos próximos anos”, comentou.

Aprendizado que transforma e gera renda

De acordo com o professor Augusto Azevedo, integrante do ReciclaON, os resultados da ação já são visíveis. Cooperativas têm se mobilizado para ampliar a coleta de eletrônicos e aplicar na prática o conhecimento adquirido. “Percebemos um interesse crescente de instituições e grupos locais, o que mostra que a conscientização está se transformando em atitude. Cada equipamento reaproveitado representa menos poluição e mais renda para quem atua nessa cadeia”, destacou.

Augusto reforça que o ReciclaON vai além da formação técnica: busca profissionalizar os catadores, incorporando tecnologia, gestão e sustentabilidade à rotina de trabalho. “Eles passam a atuar com segurança, consciência e técnica, fortalecendo toda a cadeia de reciclagem. O módulo de gestão, por exemplo, ensina como calcular o valor dos materiais, planejar as vendas e estruturar a comercialização de forma sustentável”, explicou.

O cooperado Dárcio Ferreira, da Cooperativa CARE, participou das duas edições do curso em Aracaju e relata que o aprendizado já trouxe mudanças práticas. “Hoje conseguimos identificar componentes que antes passavam despercebidos e dar o destino certo a cada peça. Trabalhamos com mais segurança e aproveitamos melhor o material”, afirmou. Ele também elogiou o apoio da Universidade Tiradentes. “A estrutura é excelente e o ambiente acolhedor. Cada capacitação aqui nos faz sair mais preparados e motivados”, compartilhou.

Responsabilidade que se multiplica

Com o avanço tecnológico, o volume de resíduos eletrônicos tende a aumentar ainda mais nos próximos anos. Iniciativas como o ReciclaON e o Conduta Consciente mostram que o enfrentamento desse desafio depende da cooperação entre universidades, poder público, setor produtivo e sociedade civil. Para Cláudia Melo, o projeto reforça que a crise ambiental é uma realidade próxima. “Ela não é um problema distante. O que fazemos com o lixo que geramos todos os dias tem impacto direto sobre o planeta”, alertou.

Além de gerar benefícios diretos às cooperativas, os resultados da capacitação também contribuem para os indicadores de sustentabilidade da Unit junto ao MEC, fortalecendo o compromisso institucional com a responsabilidade socioambiental. “Estamos criando métricas específicas para monitorar os resíduos gerados e tratados durante o curso, o que reforça nossa política de gestão ambiental e educação sustentável”, concluiu Cláudia.

 

 

Por: Laís Marques

Fonte: Asscom Unit

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