Como surgiram os trajes de São João tradicionais? Especialistas explicam

Professores de moda explicam como o xadrez e o chapéu de palha viraram símbolo estético da época

Publiciado em 23/06/2025 as 12:12

Nas festas juninas tradicionais não podem faltar milho cozido, paçoca, canjica, pamonha, forró pé de serra.

Também não faltam as roupas coloridas, tradicionalmente quadriculadas, e ornamentadas com babados, fitas, laços e rendas. Mas você sabe a origem dessa estética tão característica do São João?

Culturas
e crenças

No Brasil, os trajes estampados, principalmente nas festas do interior do Nordeste, são 'a cara' dos arraiais e quadrilhas tradicionais.

O figurino típico da época tem origem em um processo de transformação cultural a partir de um conjunto de valores, crenças, comportamentos e práticas, em que influências europeias, ritos religiosos e expressões regionais brasileiras que se fundem.

Inicialmente, o intuito das festas juninas era celebrar os santos populares, principalmente São João e Santo Antônio.

De acordo com os relatos do padre Fernão Cardim, jesuíta do século XVI, eram realizados cortejos como parte de uma estratégia de catequização das aldeias indígenas, durante o Brasil Colônia, com a finalidade de aproximar o ensino religioso dos povos originários.

Os trajes típicos dos homens - calça, camisa quadriculada, colete e chapéu de palha - reforçam a figura estereotipada do trabalhador rural europeu, posteriormente adaptada ao sertanejo brasileiro.

Por outro lado, as mulheres vestem saias rodadas, vestidos estampados, laços no cabelo, rendas e babados. Essas tradicionais vestimentas "são uma representação romantizada da vida no campo", explica Paulo Medeiros, coordenador de Moda do centro universitário UniFBV Wyden.

O novo
xadrez?

Mas como toda expressão cultural, as roupas juninas se estabeleceram como símbolos da cultura popular, mas também foi se adaptando a novos contextos e significados, tendo seus elementos reinterpretados ao longo dos anos, acompanhando movimentos da moda como sustentabilidade, reaproveitamento de tecidos e uma forte valorização da identidade regional.

A identidade visual tradicional permanece nos trajes, contudo, as novas tendências permitem que os mais lúdicos montem visuais customizados sem a necessidade de comprar novas peças.

Surgem, então, combinações com jeans desgastados, saias estampadas, retalhos, tecidos (linho ou couro ecológico) ou acessórios como chapéus feitos de materiais que não sejam palha, lenços, flores, bolsas bordadas e brincos de palha.

''O preto funciona bem nas fotos e remete a uma ideia de sofisticação. O segredo é equilibrar o visual, respeitando o clima da festa, mas sem abrir mão da identidade de quem veste'', pondera o especialista em moda, a respeito de recentes atualizações estéticas, influenciadas pelas redes sociais.

Preservação
Ainda que aconteça uma modernização nos estilos de roupas para o São João, refletindo a diversidade de corpos, estilos e identidades, provocando o fim da reprodução dos trajes típicos, a professora do curso de Moda da Wyden, Sabrina Nascimento, alerta que é preciso não deixar as transformações acabarem com as tradições da festa junina.  

"(Existe) uma demanda crescente por individualização e representatividade nas peças, mesmo dentro de contextos culturais marcadamente coletivos como o São João. Contudo, é importante que, mesmo com essas transformações, a essência da tradição não se perca'', defende Sabrina.

Nesse sentido, é possível observar na estética junina uma influência do estilo country, devido à origem rural e ao uso de peças como botas, camisas e chapéus, mas os tons fechados e a utilização do couro, perecem em meio ao colorido e popular.

"A semelhança está no campo simbólico, mas a diferença está no sotaque: o São João tem cheiro de milho assado e som de sanfona e isso muda tudo", manifesta o professor Paulo Medeiros. 

 

Fonte: Folha PE