2025 pode terminar com uma boa notícia para as contas do brasileiro: a inflação do ano pode ser menor que a esperada. É o que prevê a edição mais recente do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central a partir de um levantamento junto às instituições financeiras do país. Ele prevê que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o indicador oficial da inflação, pode fechar o ano de 2025 em 4,85%, menos que os 4,86% previstos no Focus anterior. Para 2026, a projeção da inflação também caiu, de 4,33% para 4,31%. Para 2027 e 2028, as previsões são de 3,94% e 3,8%, respectivamente. Esta foi a décima quarta redução seguida na estimativa, realizada pelo BC .
“Isso significa que o mercado financeiro está ajustando suas expectativas para uma inflação menor do que o projetado antes, aproximando-se do teto da meta oficial de 4,5% definida pelo Banco Central. “Apesar disso, a previsão ainda está acima do centro da meta, que é 3%, indicando uma inflação relativamente controlada, mas que ainda exige atenção. A queda nas projeções reflete a melhor performance recente dos índices de preços, incluindo até deflação em alguns meses”, explica o economista e professor Rodrigo Rocha, dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e pós-graduação Lato Sensu da Universidade Tiradentes (Unit).
Essa queda foi influenciada principalmente por fatores como a redução dos preços da energia elétrica, que recuaram 4,21% em agosto, e dos transportes, além da queda nos preços do grupo Alimentação e bebidas por três meses consecutivos. “Os alimentos têm peso significativo no índice oficial de inflação porque são itens essenciais para o consumo das famílias. A queda nos preços de alimentos básicos foi um dos principais motores da redução da inflação, refletindo, especialmente, possíveis melhorias na oferta de produtos agrícolas, que são influenciados fortemente por questões climáticas”, destaca Rodrigo, acrescentando que a tendência para os próximos meses é de desaceleração da inflação.
Além das questões climáticas, houve ainda um fator que influiu decisivamente neste comportamento dos preços: as tarifas de importação impostas aos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Desde julho, tudo o que é comprado do Brasil pelos norte-americanos tem que pagar uma taxa adicional de 50% dos preços, o que vem derrubando as exportações de diversos produtos.
O professor avalia que o “tarifaço” fez com que parte da produção fosse vendida aos EUA fosse destinada mais ao mercado interno brasileiro, aumentando a oferta doméstica, pelo menos no curto prazo. “Isso ajudou a conter os preços de alguns setores, como carnes e café, reduzindo a pressão inflacionária, mesmo que o impacto seja considerado modesto e temporário. Essa dinâmica abriu espaço para preços mais baixos em alguns bens consumidos no Brasil”, considera ele, apontando ainda que o cenário político interno não gerou pressões inflacionárias significativas, com estabilidade das expectativas econômicas.
Apesar da diminuição dos preços, ainda persiste junto ao público nas ruas a sensação de que tudo continua mais caro e o dinheiro não está dando conta desses aumentos. Rodrigo esclarece que tal sensação persiste, em parte, devido ao impacto prolongado dos aumentos de preço dos anos anteriores e à percepção de perda do poder de compra. “No entanto, com a desaceleração e quedas pontuais da inflação, essa percepção tende a melhorar gradualmente, especialmente se os preços se estabilizarem e os salários acompanharem melhor o custo de vida”, prevê ele.
E os juros?
A queda dos preços e das expectativas de inflação não se refletiu nos juros da Taxa Selic, a taxa básica de juros, que foram mantidos em 15% na última reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom). Esse movimento já era previsto no Boletim Focus, que crava a manutenção deste nível até o fim deste ano. Para o fim de 2026, a expectativa é que a Selic caia para 12,5% ao ano. Para 2027 e 2028, a previsão é que ela seja reduzida novamente para 10,5% ao ano e 10% ao ano, respectivamente.
“Sob a ótica tradicionalmente conservadora do Banco Central, ainda se faz necessário manter a política monetária restritiva (taxa Selic em patamar elevado), para evitar surpresas desagradáveis nos próximos 18 meses (1º trimestre de 2027), criando uma expectativa de levar a inflação para mais próximo do centro da meta nos próximos anos”, avalia Rodrigo Rocha. Ainda de acordo com ele, essa redução da Selic a partir de 2026 depende do comportamento da inflação e do surgimentos de sinais claros de desaceleração econômica, embora não estejam descartados futuros cortes na taxa até dezembro. “No curto prazo, o Banco Central deverá manter a Selic elevada para garantir a estabilidade dos preços”, conclui o professor.
Autor: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit, com informações da Agência Brasil
Legenda: A queda nos preços de alimentos básicos foi um dos principais motores da redução da inflação (FOTO: Valter Campanato/Agência Brasil)