O que começou como uma simples troca de ideias entre colegas de curso se transformou em uma conquista científica de grande relevância regional. Um grupo de estudantes da Universidade Tiradentes (Unit) decidiu ir além das discussões em sala e refletir sobre o papel das mulheres na área tecnológica. Dessa iniciativa nasceu o Ladies in Code (LICODE), liga acadêmica que, em pouco tempo, levou o nome da instituição ao topo no Workshop Meninas Digitais, durante a Escola Regional de Computação Bahia, Alagoas e Sergipe (ERBASE).
Composto por Rayelen Oliveira, Helena Leal, Juliana Silva Ivo, Laiza Souza, Flávia Vieira, Stheffany Santos e Marina Teixeira, o grupo foi premiado com o título de Melhor Artigo Científico pelo estudo “Presença feminina em diversas áreas de tecnologia da informação no contexto nordestino: desafios e oportunidades”. A conquista representa o início de uma jornada promissora e evidencia o protagonismo feminino no campo científico e tecnológico.
O LICODE foi criado a partir da iniciativa de Rayelen Oliveira e Stheffany Santos, que buscaram criar um ambiente de acolhimento e representatividade para mulheres nos cursos de tecnologia. O projeto ganhou força com o apoio dos professores Victor Flávio Araujo e Luiz Gomes, docentes da área de TI da Unit, que auxiliou o grupo na estruturação da liga e no desenvolvimento das pesquisas.
Rayelen, aluna do 5º período de Ciência da Computação, conta que a ideia surgiu diante da escassez de mulheres na área. “Notamos o quanto somos minoria nos cursos de TI e a ausência de um espaço que realmente fosse nosso. Muitas vezes, sentimos que não pertencemos a esse ambiente. A liga nasceu para mudar isso, criando um espaço seguro e encorajador”, afirma.
Reconhecimento que inspira e transforma
Durante a ERBASE, o LICODE apresentou dois artigos científicos, ambos aprovados, sendo um deles reconhecido como o melhor do Workshop Meninas Digitais. O trabalho vencedor abordou questões como a evasão feminina na área, a baixa inserção no mercado de trabalho e a necessidade de políticas que estimulem a permanência das mulheres na tecnologia.
Rayelen explica que os resultados do estudo evidenciam dados preocupantes. “A representatividade feminina em TI no Nordeste ainda é muito pequena, apenas 12% das matrículas nos cursos e cerca de 20% no mercado de trabalho. Também observamos a ausência de mulheres em cargos de liderança e dificuldades no empreendedorismo. Além disso, há carência de dados regionais, o que limita a criação de políticas públicas eficazes”, destacou.
O segundo artigo, intitulado “Presença de projetos parceiros nordestinos do Meninas Digitais em artigos WIT: análise qualitativa de temáticas trabalhadas”, complementa o primeiro ao reunir experiências já aplicadas na região. “Enquanto o primeiro estudo faz um diagnóstico dos desafios, o segundo mostra exemplos práticos de enfrentamento e soluções, evidenciando o papel das redes de apoio e dos programas de inclusão”, completou Rayelen.
Força acadêmica e representatividade feminina
Para a professora Ana Carla do Nascimento Santos, docente do Departamento de Computação da Unit e analista de sistemas da SEED, o reconhecimento tem grande relevância para o grupo e para a instituição. “É um marco importante. Receber esse prêmio logo no início da liga demonstra o valor social e científico da iniciativa. Mostra que o empenho coletivo das alunas está produzindo resultados concretos”, destacou.
Ana Carla também ressalta que o prêmio reforça o compromisso da Unit com a diversidade e a pesquisa aplicada. “Para as estudantes, é a prova de que elas são capazes de produzir ciência de qualidade. Para a universidade, é uma confirmação de que incentivar inovação, inclusão e impacto social é o caminho certo”, completou.
Protagonismo que inspira novas gerações
Helena Carvalho Leal, diretora de pesquisa da LICODE e estudante do 8º período de Ciência da Computação, considera que a conquista marca um novo capítulo para o grupo. “Essa vitória nos deu visibilidade regional e mostra que estamos trilhando o caminho certo. Agora temos base para buscar novas parcerias e participar de eventos de maior relevância nacional e internacional”, explicou.
Helena acrescenta que o grupo já está desenvolvendo novas produções científicas e organizando atividades voltadas ao fortalecimento técnico e acadêmico das integrantes. “Mais do que um prêmio, essa conquista simboliza representatividade. Queremos que outras mulheres se sintam inspiradas e seguras para ocupar espaços na tecnologia”, afirmou.
A presidente da liga, Stheffany Santos, reforça que o impacto do trabalho vai além da academia. “O maior legado dessa pesquisa é dar visibilidade à atuação feminina na TI nordestina, mostrando tanto os desafios quanto às oportunidades de transformação. Nosso estudo ajuda a entender as desigualdades regionais e serve de base para políticas institucionais, projetos de extensão e programas de incentivo”, disse.
O processo de elaboração dos artigos também exigiu comprometimento e trabalho conjunto. Juliana Sampaio Silva Ivo, aluna do 4º período, conta que o grupo precisou conciliar o ritmo acadêmico com as exigências da pesquisa. “Foi desafiador equilibrar o tempo entre o artigo e outras atividades, mas o espírito de equipe fez toda a diferença. Analisamos 339 artigos para embasar o estudo. Cada integrante contribuiu com uma perspectiva única, o que enriqueceu muito o trabalho”, relembra.
Avanço coletivo
A professora Ana Carla reforça que grupos como o LICODE têm papel essencial na transformação do cenário da computação no Brasil. “Ver mulheres produzindo ciência desse nível é uma vitória coletiva. Mostra que talento e competência não têm gênero, e esse tipo de resultado ajuda a quebrar estereótipos e inspirar novas gerações”, afirmou.
Para o professor Victor Flávio Araujo, orientador e apoiador da liga, o sucesso das alunas é fruto de autonomia, colaboração e propósito. Desde a criação do grupo, ele orienta as estudantes na pesquisa e na integração com o programa nacional Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira de Computação, parceria que fortaleceu a identidade e a visibilidade da liga.
Mesmo recente, o LICODE já demonstra que está pronto para ultrapassar fronteiras e seguir em expansão. A conquista na ERBASE é apenas o primeiro passo de uma trajetória que promete inspirar outras mulheres e ampliar a representatividade feminina na tecnologia. “Cada avanço que conquistamos é um convite para que mais meninas percebam que ciência e tecnologia também são espaços para elas”, finaliza.
Por: Laís Marques
Fonte: Asscom Unit




