MODE: quando o desejo por músculos vira um transtorno alimentar

Especialista alerta para aumento da obsessão pelo ganho de massa muscular entre jovens e seus riscos para a saúde física, mental e social

Publicado em 22/08/2025 às 08:33

Nem toda atenção dedicada à alimentação e ao treino é saudável. No cenário atual, fortemente influenciado pelas redes sociais, a busca por um corpo musculoso e definido pode ultrapassar a noção de bem-estar e se transformar em comportamento compulsivo. O que antes era uma meta estética passa a incluir atitudes rígidas e repetitivas, como seguir dietas extremamente restritivas, ingerir suplementos em excesso, evitar contato social e sentir intensa ansiedade quando há qualquer interrupção na rotina de exercícios ou na alimentação planejada. Esse conjunto de comportamentos pode indicar um transtorno ainda pouco conhecido, mas em crescimento: o MODE.

O MODE, acrônimo de “Muscle-Oriented Disordered Eating” (transtorno alimentar voltado para o ganho de massa muscular), é caracterizado por uma fixação patológica em aumentar a hipertrofia. De acordo com a nutricionista Carla Souza, docente da Universidade Tiradentes (Unit), o quadro envolve planos alimentares inflexíveis, monitoramento obsessivo de macronutrientes, consumo elevado de suplementos e, em alguns casos, uso de esteroides anabolizantes. “Diferente da anorexia, que busca o emagrecimento, ou da bulimia, marcada por ciclos de compulsão e purgação, o MODE tem como foco central o crescimento muscular”, esclarece.

Ainda segundo Carla, o transtorno é mais comum entre homens jovens, especialmente na faixa universitária. “Estudos indicam que cerca de 22% dos homens de 18 a 24 anos apresentam comportamentos ligados ao MODE. Mas as mulheres também podem ser afetadas e, nesses casos, os níveis de ansiedade e depressão tendem a ser mais elevados”, comenta. Entre os fatores que contribuem para o avanço desse quadro está a cultura fitness das redes sociais, que promove corpos com baixo percentual de gordura e alta definição como padrão de beleza.

Efeitos sobre corpo e mente

As consequências do MODE podem ser severas tanto fisicamente quanto emocionalmente. No aspecto físico, Carla aponta riscos como sobrecarga nos rins, desequilíbrios nutricionais, alterações hormonais, infertilidade e complicações cardiovasculares. Já no campo psicológico e social, são frequentes casos de depressão, ansiedade, sentimento de culpa e isolamento. “Há pacientes que abandonam compromissos acadêmicos, profissionais ou relacionamentos para manter o controle absoluto sobre dieta e treino”, alerta. Segundo ela, esse comportamento tende a se perpetuar, já que a rigidez das regras aumenta a pressão por mantê-las.

A fronteira entre um hábito saudável e um padrão nocivo nem sempre é fácil de identificar. Para a nutricionista, um estilo de vida equilibrado inclui flexibilidade alimentar, aceitação de pequenas exceções e prática de exercícios por prazer, não apenas por obrigação. “O problema surge quando existe rigidez excessiva, ansiedade diante de mudanças e prejuízos na vida social e emocional”, explica. Carla costuma reforçar aos pacientes que “ninguém precisa seguir 100% da dieta à risca; fazer 90% já é suficiente para bons resultados e saúde preservada”.

Formas de prevenção

Embora não haja um tratamento padronizado para o MODE, a abordagem deve ser personalizada e contar com acompanhamento multidisciplinar. O nutricionista é peça-chave na identificação precoce e na reestruturação dos hábitos alimentares, tornando-os mais funcionais e menos compulsivos. O cuidado também deve incluir psicoterapia e, quando necessário, apoio psiquiátrico. Carla orienta que familiares e amigos fiquem atentos a sinais como obsessão pela musculatura, uso contínuo de suplementos e afastamento social. “É fundamental abordar o assunto com empatia, estimular a procura por ajuda e reforçar que a identidade da pessoa vai muito além da aparência física”, finaliza.

 

 

Por: Laís Marques

Fonte: Asscom Unit

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