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Saúde

Estudantes promovem reabilitação e acolhimento a famílias de crianças com autismo

Há oito anos, o projeto Adapte Mais, da Unit, oferece atividades gratuitas que fortalecem habilidades motoras, estimulam a convivência e acolhem mães e responsáveis com apoio psicológico.

Por Redação Sergipe Notícias Publicado em 06/12/2025 às 09:48
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Estudantes promovem reabilitação e acolhimento a famílias de crianças com autismo

Um projeto de extensão desenvolvido há oito anos por alunos e professores da Universidade Tiradentes (Unit) vem promovendo ações de integração e reabilitação motora para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outros tipos de transtorno ou deficiência mental ou cognitiva. É o projeto Adapte Mais, que envolve estudantes dos cursos de Educação Física e Psicologia em atividades gratuitas e semanais no Campus Farolândia, em Aracaju. 

Atualmente, o projeto atende a 18 crianças e adolescentes com autismo nível 3 (também chamado autismo severo), deficiência intelectual e síndrome de Down, condições que se caracterizam por comportamentos restritivos e repetitivos, além de dificuldades graves nas habilidades de comunicação e relacionamento. Elas são acompanhadas por 16 estudantes de Educação Física, que monitoram e aplicam os exercícios, jogos e atividades de reabilitação. Ao mesmo tempo, outras seis alunas de Psicologia acolhem e desenvolvem outras atividades para as mães e responsáveis pelas crianças atendidas. 

O projeto foi criado em 2017, em um contexto de discussões sobre o papel da universidade no atendimento às mais variadas demandas da sociedade e das comunidades que vivem no entorno de cada campus. A professora Lisane Dantas Meneses, do curso de Educação Física da Unit, foi uma das criadoras e está até hoje como orientadora. Ela lembra que o  Adapte Mais já surgiu com o objetivo de trabalhar as habilidades motoras das pessoas com deficiências, além de ser um campo de estágio e aprofundamento de conhecimento para os alunos.”Nele, a universidade assume esse papel de atendimento à comunidade, através da extensão. É um projeto que tem vários eixos e objetivos”, definiu.  

As atividades do Adapte Mais acontecem de uma a duas vezes por semana, quando as crianças e os alunos executam exercícios nas quadras do Complexo Esportivo Valquírio Costa Lima, no Campus Farolândia. Durante aproximadamente duas horas, passam pelo chamado “circuito motor”, uma série de estímulos de movimento, de equilíbrio e de raciocínio que buscam ativar, melhorar e fortalecer os reflexos e a coordenação motora. Nele, a pessoa executa tarefas distribuídas por estações, sendo que cada uma delas trabalha uma habilidade motora específica. 

“A gente vê principalmente a melhoria das habilidades motoras dos alunos, os aspectos cognitivos e também a sociabilidade, o aumento da capacidade de convivência. O projeto atua muito nesses campos, e a gente viu melhorias significativas”, confirma Lisiane, acrescentando que outro impacto é o enfrentamento contra estigmas e preconceitos que ainda persistem contra os autistas e outras pessoas com deficiência. “O maior problema da sociedade hoje é a barreira atitudinal. É olhar as pessoas neurodivergentes, no nosso caso os autistas, e entender que elas são pessoas atípicas, mas podem seguir a vida como outra pessoa qualquer, dentro das suas possibilidades. Ainda se coloca nelas um termo de ‘incapaz’, e isso eles não são”, defende a professora. 

 

Acolhendo as que cuidam

Já o acolhimento às mães atendidas acontece no mesmo horário em que as crianças fazem os exercícios. Sob a orientação do professor Roberto Luís Barreto, as alunas de Psicologia fazem com elas uma série de dinâmicas que buscam promover o resgate do protagonismo e da identidade própria. Este apoio atende a uma reivindicação antiga das mães, que se queixam constantemente das pressões e dificuldades impostas pela sociedade, pela rotina de lidar com um filho atípico e, muitas vezes, por situações da própria família. De acordo com uma das alunas participantes, 

“Essas mães atípicas têm uma vida muito exaustiva, não têm tempo para trabalhar porque a demanda é muito alta. Elas levam os filhos para a psicoterapia, para vários atendimentos psicológicos. Como elas não têm o protagonismo como mulheres, a gente está somando junto com a Educação Física para dar esse momento de respiro para elas. Um momento que elas possam se sentir mulheres e protagonistas da sua própria vida”, explica a aluna Juliadna Sebastião, do oitavo período de Psicologia, ao relembrar uma das dinâmicas mais marcantes, relacionada ao Outubro Rosa: nela, as mães passaram por sessões de massagem e de embelezamento, como forma de estimular o autocuidado. “A gente sentiu no início uma grande resistência delas, porque a maioria está no papel de cuidar, não de ser cuidada. E na medida em que elas foram se abrindo, elas chegaram ao final florescendo, resgatando memórias do passado, de como elas eram antes de serem mães”, conta. 

Para a dona de casa Ana Paula dos Santos Lira, mãe de Rian Gustavo, 12 anos, o apoio psicológico prestado pelo Adapte Mais foi “um grande alívio”. “Foi muito importante e necessário, porque as psicólogas nos ajudam no nosso dia-a-dia. Às vezes, a gente chega aqui triste e desanimada. Aí, conversamos com elas, contamos os nossos problemas e elas nos ajudam. Como agora a gente também está aprendendo a fazer biscoito, que é uma profissão se a gente quiser vender. Então, tudo isso é muito importante para as mães e para as crianças também. Foi uma necessidade que a gente pedia e via que era necessário”, disse Ana Paula, no meio de uma atividade no Centro Gastronômico, onde as mães e as alunas aprenderam a fazer doces e biscoitos. 

 

Aprendizados e evoluções

A aluna Diana de Oliveira Santos, do oitavo período de Educação Física, participa do Adapte Mais desde 2024. Ela conta que tem primos com TEA, mas ainda não tinha uma vivência prática na interferência que ela tem durante o desenvolvimento motor dessas crianças. “O projeto me abriu os olhos no sentido mais humano, ter mais empatia, da inclusão de fato, de a gente ver a necessidade, pegar as práticas e adaptá-las às necessidades de cada criança. Através desse olhar, a gente consegue adaptar e trazer outras experiências de fora e conseguir juntar e unir para que algo flua de uma forma mais tranquila. A gente acaba tendo um pouco mais de cuidado na forma como a gente direciona-se às pessoas, tanto na nossa fala, tanto nas nossas ações e principalmente no cuidado”, define a aluna.

O radialista e policial militar Salomão Silva relata que o Adapte Mais foi “um divisor de águas” para o desenvolvimento do filho Emanuel, 15 anos, por ser um espaço em que ele pode fazer atividades físicas orientadas. “Não é todo dia que a gente encontra hoje esse tipo de atividade para os nossos filhos. Hoje, já é comprovado cientificamente que a atividade física colabora com o desenvolvimento de outras potencialidades da criança, como a fala, o espírito de prontidão, de atenção, de corresponder aos comandos. Tudo isso favoreceu a ele. Nos dias que ele faz atividade física aqui e vai na fonoaudiologia, ele rende mais do que o dia que ele vai só na fonoaudióloga. A gente percebe que a atividade física colabora também com essa questão da atenção na própria escola”, atesta Salomão. 

 

Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit 

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