Gordura no fígado pode aumentar ainda mais o risco de doenças graves

A condição é causada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado, causado sobretudo pela gordura abdominal; o problema agrava o risco de doenças como cânceres, cirrose e até doenças cardiovasculares

Publiciado em 02/05/2025 as 18:48

O acúmulo excessivo de gordura no fígado, uma das consequências mais diretas da obesidade, pode resultar em complicações de saúde e doenças mais graves a longo prazo. Esta evidência foi confirmada em uma pesquisa realizada por cientistas do Instituto Karolinska, na Suécia, e publicada em março em um artigo na revista científica suíça Journal of Hepatology. O estudo concluiu que a chamada esteatose hepática também aumenta os riscos absolutos de morte causada por cânceres em outros órgãos do corpo e doenças cardiovasculares. E no caso das doenças hepáticas, como cirrose e câncer de fígado, o risco de morte é até 35 vezes mais alto do que a população geral.

Estes dados aumentam a preocupação entre os médicos e especialistas, que já temem o aumento significativo dos casos de obesidade em todo o mundo. Uma segunda pesquisa, elaborada em 2023 por pesquisadores da Universidade da Califórnia San Diego (UCSD), nos Estados Unidos, mostrou que a prevalência de jovens de 15 a 19 anos com doenças hepáticas subiu de 3,73% em 1990 para 4,71% em 2019, o que representa um aumento de 26,27%. Os países da Oceania tiveram a maior prevalência destes casos em adolescentes, com 6,54%, mas o maior crescimento de casos neste espaço de 29 anos, com 39,25%, aconteceu na América do Sul. E a grande maioria destes casos está ligada ao aumento dos Índices de Massa Corpórea (IMC), os quais configuram situações de sobrepeso e obesidade. 

A esteatose hepática se configura quando o acúmulo de gordura no fígado passa de uma determinada quantidade. “Ela se acumula principalmente quando o corpo tem mais gordura circulando do que consegue usar ou eliminar. Isso pode acontecer por uma alimentação rica em açúcares e gorduras, sedentarismo, ganho de peso, diabetes mal controlado, entre outros fatores. O fígado acaba ‘guardando’ esse excesso na forma de gordura. Não é uma doença isolada, mas um sinal de que o fígado está sobrecarregado”, detalha o médico Leonardo Figueiredo Inácio de Souza, endocrinologista e professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit). 

Ele explica que, em alguns casos, a esteatose pode evoluir e causar complicações como inflamação ou mesmo danos permanentes no fígado. “No curto prazo, muita gente nem percebe que tem gordura no fígado, é silencioso. Mas, com o tempo, ela pode causar inflamação, o que chamamos de esteato-hepatite. Em alguns casos, isso pode evoluir para fibrose, cirrose e até câncer de fígado. É por isso que ela merece atenção, alerta Leonardo, classificando a obesidade como um dos principais fatores de risco para a esteatose hepática. “Especialmente a gordura abdominal, aquela que se acumula em volta dos órgãos, está muito ligada à gordura no fígado. Quanto maior o acúmulo de gordura corporal, maior a chance de sobrecarga”, acrescenta.

Perda de peso ajuda a tratar

Para tentar tratar a gordura no fígado, muitas pessoas costumam recorrer aos chamados “remédios para o fígado”, baseados em substâncias como ácido ursodesoxicólico, silimarina, colina e metionina. No entanto, Figueiredo esclarece que esses medicamentos ajudam a aliviar sintomas como a má digestão, dando a impressão de que estão “limpando o fígado”, mas, “na prática, não têm comprovação científica de que revertam o problema da gordura no fígado”.

Neste sentido, a medida considerada como a mais eficaz para reduzir a gordura no fígado é a perda de peso. De acordo com o professor, a diminuição entre 5 e 10% do peso corporal já pode fazer uma grande diferença no paciente, e que, em muitos casos, a esteatose pode até desaparecer com mudanças no estilo de vida, com mudanças na alimentação e adoção de exercícios físicos. Outros métodos de perda de peso, como cirurgia bariátrica ou medicamentos como a semaglutida (Ozempic) e a tirzepatida (Mounjaro) também podem ser cogitados. 

“O importante é perder peso e mantê-lo. Os três métodos podem ser eficazes. A cirurgia bariátrica, por exemplo, tem efeito rápido e profundo. Já os medicamentos mais modernos têm mostrado resultados muito positivos, tanto na perda de peso quanto na melhora da esteatose. E claro, a mudança de hábitos alimentares e atividade física são sempre a base do tratamento”, destaca o endocrinologista, citando a adoção de alimentos mais favoráveis ao fígado, como frutas, verduras, legumes, grãos integrais, azeite de oliva, castanhas e outros alimentos ricos em fibras. “Evitar alimentos ultraprocessados, açúcar em excesso, refrigerantes, bebidas alcoólicas e frituras é fundamental”, acrescenta.

 

Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit 

A esteatose hepática se configura quando o acúmulo de gordura no fígado passa de uma determinada quantidade (Imagem gerada por IA)

Leonardo Figueiredo Inácio de Souza, médico endocrinologista e professor do curso de Medicina da Unit (Acervo pessoal)