Sergipe celebra sua riqueza folclórica: resistência, memória e identidade

Publicado em 17/08/2025 às 05:01

Sergipe se destaca no cenário cultural brasileiro por carregar uma rica mescla das tradições portuguesa, negra e indígena, formando um dos folclores mais diversificados do país. Essa herança histórica se manifesta em festas, danças e encenações que atravessam gerações, mantendo vivas as raízes culturais e a identidade do povo sergipano. O Dia do Folclore, celebrado em 22 de agosto, reforça a importância dessa preservação, reunindo expressões como Cacumbi, Chegança, Lambe-Sujo, Reisado, Taieira, Bacamarteiros, Samba de Coco e muitas outras.

O doutor em história Jorge Carvalho afirma que “o folclore se debruça sobre a identidade cultural das pessoas, exercendo um papel fundamental na definição da cultura de um país ou de uma região. Ele transmite tradições, costumes e valores por meio de lendas, mitos, músicas, folguedos, festas populares e modos de viver e sentir, preservando vestuário e objetos que se perpetuam de geração em geração, adaptando-se e moldando a identidade de um povo. Esse processo ocorre tanto na vasta e plural sociedade brasileira quanto na rica cultura do Estado de Sergipe”.

Ele ainda destaca que “em um país como o Brasil, as tradições do folclore são extremamente diversificadas, variando de região para região e até conforme a época do ano. Uma mesma manifestação popular, como o Carnaval, assume formatos distintos: no Rio de Janeiro e em São Paulo, predominam as grandes escolas de samba e blocos; na Bahia, os desfiles e blocos seguem gêneros musicais diferentes; em Pernambuco, o frevo e outras expressões locais; e, em estados, como no Maranhão e no Pará, destaca-se o Carnaval do Boi. Essa diversidade também está presente no ciclo natalino do litoral nordestino, com chegança e reisado em estados como Sergipe e Alagoas, além das lendas e festas que marcam cada região — do Saci-Pererê e Curupira ao frevo, maracatu, afoxé, catira e ciranda. Esse mosaico de expressões, segundo ele, é o que molda a identidade cultural do país”.

Jorge Carvalho explica que “se debruçar sobre a origem das tradições do folclore em Sergipe é voltar ao período da colonização e às influências recebidas no século XIX. Festas religiosas cristãs do ciclo natalino, por exemplo, mesclam-se com tradições e crenças do povo africano escravizado. A quadrilha junina traz influências francesas, o uso do acordeon chegou de Portugal e da França, e instrumentos de corda vieram da Espanha. Manifestações como a Chegança, que remete ao conflito entre mouros e cristãos, o Reisado e o Cacumbi guardam raízes religiosas e lendárias europeias. Assim, grande parte do folclore sergipano nasce do encontro entre a cultura europeia, os povos originários brasileiros e as contribuições africanas, asiáticas e de outras regiões do mundo”.

O patrimônio folclórico de Sergipe mantém-se vivo desde o período colonial, com manifestações que combinam elementos históricos, religiosos e artísticos. Entre os destaques estão o Lambe-Sujo e os Caboclinhos, que encenam a luta simbólica entre negros e indígenas, o Reisado, de origem portuguesa, a Chegança, que dramatiza batalhas marítimas, a Taieira, com forte influência africana, e o São Gonçalo, que mistura devoção e dramatização. Essas tradições preservam narrativas populares e promovem o sentimento de pertencimento cultural.

Além dessas expressões, o estado também abriga celebrações que ganharam reconhecimento institucional. O Barco de Fogo, criado em Estância na década de 1930, tornou-se Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe, através da Lei Nº 7690/2013. Já o Festival de Artes de São Cristóvão (FASC), criado em 1972, consolidou-se como um dos principais eventos multiculturais do estado, recebendo em 2023 o título de Bem de Interesse Cultural, com a Lei Nº 9278/2023. Esses símbolos reforçam a importância de investir na valorização e divulgação das manifestações culturais locais.

A influência da cultura negra é um pilar essencial na formação da identidade sergipana, especialmente em cidades como Laranjeiras e São Cristóvão, onde a arquitetura, a religiosidade e o folclore afro-brasileiro se mantêm presentes. Essas tradições não apenas preservam a memória, mas também representam resistência cultural diante das transformações sociais e históricas. O reconhecimento dessas raízes fortalece a autoestima coletiva e a chamada “sergipanidade”.

Assim, o folclore sergipano não é apenas um conjunto de festas e danças, mas um verdadeiro elo entre passado e presente. Ele mantém viva a memória de um povo, reafirma a resistência cultural e preserva um legado que ultrapassa fronteiras. Celebrar essas manifestações é garantir que futuras gerações herdem não apenas histórias, mas também a força e a beleza da cultura popular de Sergipe.

 

Fonte: Alese

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