Copa do Mundo de Robôs Brasil vence disputa inédita e tem a maior comissão no evento que reúne 40 países em Salvador

Iniciativa reúne mais de 2 mil competidores de 40 países. Do total, 200 participantes são brasileiros, que formam 45 equipes.

Publicado em 21/07/2025 às 05:40

Você já se imaginou em um mundo onde robôs formam times de futebol, ajudam socorristas em operações de resgate, deixam sua casa arrumada? Para especialistas em tecnologia, em um futuro não muito distante essas cenas serão comuns. E uma demonstração dessa realidade pode ser conferida no Campeonato Mundial de Robótica e Inteligência Artificial (RoboCup), conhecido como "Copa do Mundo de Robôs", em Salvador.

Os brasileiros trouxeram uma nova modalidade de disputa para o evento, entre robôs voadores, e a venceram. A competição foi realizada como um teste e, se for bem avaliada, se tornará permanente.

A programação segue até segunda-feira (21), com participação do público até domingo (20), e reúne um número recorde de brasileiros. Pela segunda vez o evento é realizado no Brasil. 

A proposta é que os drones operem de forma autônoma, sem controle humano, e simulem missões em ambientes perigosos. Entre as dinâmicas estão entrega de kits de primeiros socorros, inspeções e busca por vítimas em locais de difícil acesso.

Parte da prova, segundo os organizadores, é feita sem o uso da fala, pois entendem que, em situações de desastres, esse recurso pode não funcionar devido a barulhos e interferências externas. Por isso, o robô também deve ser capaz de executar alterações no percurso através da interpretação de gestos feitos pela equipe de resgate ou até mesmo das vítimas.

“Quando se está em uma situação de resgate, você não quer que o humano entre em um ambiente de desastre, em um ambiente inóspito. Então, cada um dos desafios aqui representa algo que o robô precisa fazer em uma emergência”, explica Rafael Lang, vice-presidente da RoboCup Brasil.

Ao todo, quatro equipes competem na categoria de drones e três são brasileiras. Os adversários do Brasil nesta modalidade são australianos.

De acordo com a organização, 200 brasileiros de diversos estados compõem 45 equipes - esta é a maior quantidade de ligas formadas por um país em 2025. O número atual é 20% a mais do que o registrado na última edição, realizada em Eindhoven, na Holanda, em 2024.

"Isso mostra que o interesse dos brasileiros por tecnologias está aumentando e que o Brasil está se consolidando cada vez mais como uma potência na área de robótica e Inteligência Artificial no mundo", destaca Marcos Simões, presidente da Robocup Brasil.

O Brasil compete em todas as 15 modalidades, com destaque para os robôs que "jogam" futebol. O país já venceu edições anteriores nestas modalidades. Desta vez, assim como na Copa do Mundo de Futebol em 2014, os alemães são os principais adversários dos brasileiros em busca de novos títulos.

No campo, o objetivo não é somente acertar o gol. É usar desafios práticos para avançar em outras áreas, com tecnologias que têm mudado o mundo.

"Os robôs que varrem, aspiram nossas casas, vão desempenhar cada vez mais funções. Em um futuro muito breve, esses robôs jogadores poderão competir contra os melhores atletas humanos do mundo. E talvez sejam até capazes de ganhar”, aposta o competidor Thomas O'Brien, que estima que, até 2050, robôs e jogadores humanos vão dividir os mesmos gramados.

Entre os times brasileiros, a RoboCin, da Universidade Federal de Pernambuco, chama atenção por esbanjar dois títulos mundiais no currículo. Os prêmios foram conquistados na série B da modalidade de futebol não-humanoide. Em 2025, eles competem pela primeira vez na série A.

“Nosso objetivo é evoluir cada vez mais. Queremos bater de frente com os alemães e chineses, países que são referência nessa competição”, detalha Victor Sabino, integrante do grupo.

A equipe Warthog Robotics, do campus da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, tenta conquistar o primeiro título mundial com robôs humanoides. Disputando a série B, na qual estão invictos, eles venceram os três confrontos que participaram, até o momento. Além das vitórias, os números impressionam: foram 36 gols marcados e nenhum sofrido

“A nossa equipe já existe há muito tempo e essa categoria é nosso carro-chefe, então estamos esperando um bom resultado final", completa Rhayna Christiani Casado integrante da equipe.

Após o Brasil, no ranking de países com mais equipes estão Alemanha (26), China (17), Japão e México (15 cada). Entre os vizinhos sul-americanos, marcam presença Uruguai, Chile e Argentina. Juntos, todos os países reúnem mais de 800 robôs, entre humanoides e não-humanoides.

“Esse campeonato tem o que é mais de ponta na área de inteligência artificial e robótica do mundo. São diversas áreas que a robótica envolve. Todas as engenharias, basicamente, elétrica, mecânica, toda a área da computação, física, matemática, está presente”, resume Reinaldo Bianchi, vice-presidente da RoboCup Brasil.

 

Destaques baianos

Ao todo, seis equipes baianas participam do RoboCup: três na divisão "major", destinada a maiores de idade, e quatro na "júnior", destinada aos menores. Os times vêm de quatro organizações diferentes: 

  • Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Salvador;
  • Colégio da Polícia Militar (CPM) - Unidade Lobato, em Salvador;
  • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifba) de Eunápolis, no extremo sul;
  • Colégio Nossa Senhora de Fátima, em Vitória da Conquista, sudoeste do estado. 

A maior das equipes é a BahiaRT, composta por alunos e professores da Uneb. A instituição também assina a organização desta edição e competirá em quatro das 15 categorias: "soccer" (futebol), "home" (tarefas domésticas), "rescue (resgate) e "flying robots" (drones).

“É a primeira – e talvez única – oportunidade de ‘jogar em casa’ em um mundial. Esta é a maior participação da BahiaRT desde 2007”, ressalta Marco Simões, que também é professor Centro de Pesquisa em Arquitetura de Computadores, Sistemas Inteligentes e Robótica (Acso) da Uneb.

Conheça algumas das principais categorias da RoboCup 

Soccer (futebol)

As regras do futebol para robôs se assemelham às tradicionais para os humanos, com escanteios, faltas, pênaltis, dois tempos de jogo e até saída de bola no meio de campo.

Nesse caso, os robôs são separados entre humanoides e não-humanoides. Aqueles que têm partes semelhantes às humanas jogam em até dois campos diferentes, separados por um tamanho maior e outro menor. Para vencer, os times humanoides precisam marcar mais gols que o adversário em um determinado tempo.

Segundo Thiago Pedro, responsável local pela modalidade, os robôs são autônomos e precisam ser treinados para saírem vitoriosos.

"Cada robô tem um computador, ele toma sozinho a decisão de partir em direção à bola, parar próximo a ela e executar o chute quando entender que deve. Cada estudante se ocupa de uma parte do processo de treinamento e deixa a máquina pronta para entregar 100% no dia das competições", detalha.

Aqueles que não parecem humanos e correm com rodas, e não pernas, são os não-humanoides. Como principal diferença, essa subcategoria explora a velocidade, o dinamismo e a interação entre os "jogadores".

São máquinas que podem andar até 2 metros por segundo. As regras são quase as mesmas, com a diferença de que, se um time abrir 10 gols à frente do adversário, a partida é encerrada antes do fim do tempo regulamentar.

 Home (Domésticos)

A modalidade conhecida em inglês como "home" é entendida como cuidados ou serviços domésticos. Nesse segmento, as equipes apresentem robôs capazes de auxiliar em tarefas do cotidiano, como recepcionar pessoas, trazer e levar objetos entre ambientes, abrir e fechar portas e até levar o lixo para fora de casa. A máquina deve reconhecer e mapear não apenas os utensílios, mas também o cômodo acessado, para evitar colisões e quedas.

Para levantar esse título, a Bahia aposta suas fichas em "Bill", robô da equipe Bahia RT, da Uneb. Eles são os únicos competidores baianos nesta modalidade. (veja vídeo acima)

Na RoboCup, os participantes são colocados em arenas de teste que simulam essas funções. Para Fagner Pimentel, organizador local da categoria, o mundo está testando o que teremos no futuro dentro de casa.

"Os estudantes mapeiam o local das provas, escaneiam os objetos, informam isso para a inteligência artificial do robô e treinam ela para reconhecer os cômodos e comandos que o avaliador pedirá na hora da prova", detalhou Fagner.

Rescue (Resgate)

A categoria simula ambientes de desastres naturais e urbanos, onde seres humanos não conseguiriam acessar ou seriam considerados de alto risco. Os robôs precisam completar um percurso por plataformas que deslizam degraus de alturas variadas e irregulares.

Nessa categoria, a Bahia não tem representantes na divisão sênior, mas sim na júnior. O estado é representado pelo time Bravo, do Colégio Militar.

 Flying Robots (Drones)

Nesta modalidade, os robôs voadores, mais conhecidos como drones, não são operados por humanos como estamos acostumados a ver. Eles precisam usar inteligência artificial e completar as tarefas propostas pelos avaliadores de forma autônoma.

Em geral, os equipamentos simulam missões em ambientes perigosos. Entre as dinâmicas estão entrega de kits de primeiros socorros, inspeções e busca por vítimas em locais de difícil acesso.

modalidade "flying robots" foi criada por brasileiros e participa pela primeira vez da RoboCup. Se aprovada, a categoria será incluída oficialmente nas próximas edições.

A Bahia disputa essa categoria através da equipe Bahia RT. Para ganhar o título, o drone precisará entrar e sair de lugares escuros, levar objetos entre plataformas e obedecer a comandos verbais e gestuais.

"Esse drone pode entrar em locais de baixa visibilidade, retornar até a base de resgate e passar informações que serão essenciais para o resgate de vítimas, como em casos de enchentes ou até incêndios", descreve José Grilmaldo, organizador local da RoboCup.

 Horários das Competições

Os horários variam conforme as ligas da competição.

Ligas Júnior (crianças e adolescentes)

  • Competições de 17 a 19 de julho de 2025, das 9h às 19h
  • Finais em 20 de julho, das 9h às 12h

Ligas Major (adultos)

  • Competições de 17 a 19 de julho de 2025, das 9h às 21h
  • Finais em 20 de julho, das 9h às 14h

 

Ingressos

A programação para os participantes começou na terça, mas o evento é aberto ao público até domingo (20), das 9h às 20h.

Os ingressos são gratuitos, no entanto, é necessário realizar um cadastro na plataforma Sympla Também é possível fazer a inscrição no local do evento.

 
 
 
Fonte: G1
Publicidade

Publicidade