Estudo de doutorado aborda dor e lesões musculoesqueléticas em corredores de rua

A tese investigou os riscos e os mecanismos neurais envolvidos na dor e nas lesões decorrentes da prática da corrida de rua

Publiciado em 26/03/2024 as 13:00
Unit/ Divulgação

A popularidade da corrida de rua tem crescido consideravelmente ao redor do mundo, atraindo cada vez mais pessoas em busca de um estilo de vida saudável. No entanto, por trás desse aumento no interesse, existem desafios e riscos que os corredores enfrentam, desde iniciantes até atletas mais experientes. As lesões não apenas afastam os corredores da prática, mas também podem impactar negativamente a saúde.

Nesse contexto, a professora do curso de Educação Física da Universidade Tiradentes (Unit), Thaysa Chagas, conduziu um estudo intitulado " Dor e Lesões Musculoesqueléticas em Praticantes de Corrida de Rua e os Mecanismos Neurais Envolvidos: Estudo Observacional". A pesquisa, realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de Sergipe (UFS), busca compreender os efeitos da corrida de rua na saúde muscular e esquelética dos praticantes.

"A minha pesquisa aborda a neurociência e sua aplicação à dor experimentada pelos corredores. Apesar da corrida ser um esporte amplamente acessível e ter ganhado popularidade nos últimos anos, também é associada a um alto potencial de lesões. A maioria dos corredores, sejam novatos ou experientes, já vivenciou algum tipo de lesão relacionada à prática desse esporte. Portanto, o objetivo principal do estudo é investigar a dor experimentada por esses atletas, uma vez que praticamente todos relatam sentir algum tipo de desconforto, seja nas articulações, nos músculos ou no sistema nervoso. A intenção é analisar e avaliar essa dor antes que evolua para uma lesão", explica Thaysa Chagas.

Análise completa

O conceito por trás do projeto inicial, denominado de "Projeto correDor", consiste em explorar a conexão entre a prática da corrida e as sensações desconfortáveis associadas a essa atividade. “Nosso objetivo é entender a percepção de dor dos corredores, especialmente aqueles que conciliam trabalho e corrida como forma de lazer e cuidado com a saúde. Realizamos uma avaliação minuciosa da sensibilidade neural em indivíduos que praticam esse esporte, abrangendo áreas como tendão de Aquiles, tíbia, joelho, região glútea e lombar”, destaca Thaysa.

A análise conduzida revelou que os corredores que se dedicavam a treinos mais longos e intensos, ou seja, aqueles que percorriam grandes distâncias em ritmo acelerado, demonstravam maior sensibilidade à dor e um histórico mais extenso de lesões anteriores. Isso se devia à falta de respeito ao intervalo adequado entre as sessões de treinamento para permitir uma eficaz recuperação dos tecidos.

“Ao longo do tempo, com o devido respeito aos períodos de recuperação, observamos uma adaptação do sistema nervoso frente à prática da corrida, conhecida como "habituação neural". Essa adaptação indica que o cérebro passa a interpretar a corrida como algo não prejudicial, reduzindo assim a sensibilidade à dor. Esse processo é especialmente valioso para indivíduos com condições crônicas, auxiliando no controle da dor associada à atividade física. Em síntese, o estudo ressalta a importância de um treinamento equilibrado, respeitando os limites do corpo e os períodos de recuperação, para prevenir lesões e garantir uma prática segura e prazerosa da corrida”, enfatiza Thaysa.

Thaysa também destaca que no contexto da dor crônica, como na fibromialgia, a prática regular de exercícios físicos contribui para reduzir a sensibilidade à dor nesses pacientes. Essa descoberta representa um dos principais resultados de sua pesquisa. “O exercício físico gera imediatamente o que chamamos de hipoalgesia, um mecanismo neural que reduz a percepção dolorosa no momento. No entanto, ao longo do tempo e com a prática regular, como é o caso de corredores com anos de experiência, ocorre uma adaptação. Notamos que indivíduos sedentários apresentam maior sensibilidade à dor em comparação àqueles que praticam corrida há bastante tempo”, observa.

Além disso, sua pesquisa concluiu que praticar corrida visando prevenir lesões requer moderação - ou seja, deve ser realizada com equilíbrio e com uma adequada recuperação dos tecidos, respeitando os intervalos necessários. “Identificamos que indivíduos que excedem nos treinamentos aumentam sua sensibilidade à dor, elevando assim o risco de lesões. Essas lesões ocorrem frequentemente quando os corredores ultrapassam seus limites, entrando no chamado overtraining (excesso de treinamento). A prática regular de exercícios acaba sendo benéfica para proteger os tecidos na resposta à dor”, orienta Thaysa.

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