Mudanças de hábitos e rotinas ajudam a melhorar a qualidade de vida
O chamado ‘modo slow’ propõe uma constante e abrangente adoção de práticas e cotidianas que diminuem o estresse e melhorem a saúde mental e corporal

É possível mudar de rotina e de comportamento para melhorar a forma como levamos a vida. Esta possibilidade é apresentada pelo chamado “Movimento Slow”, um movimento capitaneado e propagado por profissionais e entidades que lidam com a saúde mental em todo o mundo. Na prática, é uma espécie de ‘filosofia de vida’, que propõe uma constante e abrangente mudança de práticas e comportamentos cotidianos, que procurem diminuir o estresse e melhorar o nosso cotidiano, com mais saúde mental e corporal.
O Movimento Slow surgiu como um desdobramento do Slow Food, movimento gastronômico que foi criado na Itália em 1986, como forma de reivindicar uma alimentação mais saudável, acessível e sustentável para todos, desde a produção dos alimentos até a forma como os consumimos. Aos poucos, este modo de vida foi se expandindo para todas as outras áreas de sustentação da existência humana.
Segundo a professora Jacqueline Alves Caldeira, do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit), o ‘modo slow’ pode estar presente em tudo que fizermos no dia dia. “Desde que você esteja disposto a ter consciência e atenção plena ("mindfulness”). Priorizar a qualidade em vez da velocidade; Resgatar o tempo para descanso (sem culpa) reflexão, conexão humana e muitas leituras leves e construtivas; ter um consumo consciente - rejeitar excessos. Viver de uma forma mais alinhada com a natureza humana e ter uma conexão com a espiritualidade que acredita, também faz parte”, orienta.
Na moda, o slow fashion busca uma consciência da desaceleração da moda e propõe a moda sustentável, reciclada e reaproveitada, o que reverberou no crescimento dos brechós e dos bazares. Na educação infantil, o slow kids se propõe a educar as crianças em seu tempo, sem envolvê-las na correria cotidiana dos pais. No mundo corporativo, as grandes empresas vêm investindo em ambientes mais abertos, cantinhos destinados aos animais de estimação, locais para amamentação e a promoção de espaços que favorecem a prática de habilidades de comunicação entre os colegas. Na psicologia, os profissionais buscam divulgar e ampliar o conhecimento sobre o movimento, gerando novas possibilidades e novas formas de flexibilizar o rigor das obrigações diárias. E muita gente começou a praticar esportes, viajar por lugares novos e fazer trilhas em parques, praias e florestas.
Jacqueline define que o slow é um movimento “genuinamente contra-cultural pela desaceleração da vida”, cuja essência traz em si a proposta de que cada pessoa olhe outra vez, mas de um modo diferente, para as coisas que já são rotinas no seu cotidiano. “E quando olhamos ‘outra vez’ temos a oportunidade de frear o nosso ritmo e desacelerar, melhorar a qualidade de vida, promover conexões mais profundas com as pessoas, o trabalho, o ambiente e o próprio corpo”, diz ela, acrescentando que “aprender a flexibilizar e ter um novo olhar para o que você faz no automático te leva para um movimento slow”.
Não é preguiça
Ao contrário do que muitas pessoas pensam (ou podem pensar), o movimento não deve ser compreendido como algo que se remeta a uma vida lenta, devagar, preguiçosa e cheia de morosidade ou procrastinação. “Se levarmos em conta o significado da palavra slow [‘lento’, em inglês], talvez a interpretamos assim. Porém, a proposta do movimento é justamente um convite para uma tomada de consciência do ‘aqui, agora’ do momento vivido e da qualidade temporal e emocional inseridas neste processo. O Movimento Slow pode ser considerado uma ‘filosofia de vida’, que tem como propósito uma desaceleração da vida”, esclarece Jacqueline.
A professora explica que a busca por uma vida mais desacelerada aconteceu porque a sociedade começou a perceber o movimento volátil e acelerado que sufoca o cotidiano. “Podemos colocar como exemplo a medicina, que traz uma estatística nacional e mundial de adoecimento mental sofrida pelos médicos e todos os outros profissionais da saúde. O burnout, a depressão, o TAG [Transtorno de Ansiedade Generalizada] e até mesmo o suicidio têm conexão com um mundo acelerado, cheio de pressão, stress, isolamento etc. Isso tudo se intensificou na pandemia [de Covid-19] e reverbera até hoje nos consultórios de psicologia e psiquiatria”, contextualiza ela.
Esta mudança de comportamentos também traz impactos na inteligência emocional de cada pessoa que se dispõe a aderir a este modo de vida. “O movimento Slow tem uma conexão com a inteligência emocional que poucos compreendem . Ter Inteligência emocional é estar atento às suas emoções e saber nomeá-las. É ter autocontrole das suas emoções, desejos e necessidade; ser empático; ter destreza social; aceitar as diversidades e principalmente ter consciência disso tudo. O movimento slow na minha percepção é um combo de tudo que precisamos para viver com mais saúde mental e física, reverenciando e respeitando a nossa condição humana”, conclui a professora.
Autor: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit
Muitas pessoas têm buscado conhecer trilhas e paisagens naturais, como forma de buscar um maior contato com a natureza: esta é uma das práticas pregadas pelo movimento slow (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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